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Sobre precocidade no ensino

  • Foto do escritor: qbrand
    qbrand
  • 23 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Há alguns dias, estava conversando com uma amiga, que é professora, tem escola e tem uma filha na idade da Sofia e ela me perguntou se Sofia já escrevia.

Como vocês sabem, Sofia estuda em escola waldorf e lá não há alfabetização antes dos 06 anos. Logo, ela não sabe escrever e nem ler. Confesso que me deu um certo constrangimento (talvez por saber que para ela não aprova a pedagogia) , mas firmemente disse que não e justifiquei que na escola dela não ensina antes dos seis anos.

E ela disse, mas você não incentiva? Não faz exercícios?

Mais uma vez, timidamente , eu disse não. E fiquei pensativa, será que tenho que fazer isso? Trabalho o dia todo, fico longe dela e o tempo que tenho com ela, eu brinco, esmago, agarro... mas fazer tarefinha definitivamente, não!

Ela já demonstra um certo interesse, perguntas sobre algumas letras ou o que está escrito em tal lugar e sempre brinca de fingir que está lendo. Mas nunca encarei isso como um apelo para fazê-la exercitar a alfabetização. Mas depois dessa conversa, fiquei pensativa.

E quando ele for para escola tradicional (ainda não decide se continuará na waldorf) como vai ser? Ela já deve ir sabendo escrever? devo fazer exercícios com ela?

Foi então que recebi esse texto sobre "precocidade no ensino" e venho compartilhar com vocês.




"Não apressemos o andar da carruagem, para não termos que reparar o mal mais tarde."

Só fato da criança de zero a quatro anos estar formando suas sinapses nervosas para toda sua vida de aprendizado não significa que ela já esteja pronta para aprender conteúdos abstratos e conceituais que lhe são dados hoje em dia de forma habitual.


Não se pode usar um martelo antes que ele seja forjado, isso significa que não podemos exigir da criança de creche um aprendizado cognitivo se suas células corticais para esse fim ainda estão sendo formadas.


Crianças de creche, antes de pegarem num lápis, necessitam primeiramente de muito carinho, compreensão, boa alimentação, repouso e muito espaço para brincar; pois é através do brincar que ela adquire a noção espacial, a noção de seu limite corporal, a coordenação motora grossa e posteriormente a coordenação motora fina.


O que deve ser esclarecido para a população leiga é que nosso cérebro é constituído por três partes: uma parte mais antiga, chamada de cérebro básico ou repteliano, uma parte mediana, chamada de cérebro límbico e uma parte mais recente chamada de neo-córtex.


A criança de creche está desenvolvendo a parte básica do cérebro, que se desenvolve através do movimento de seu corpo e nas suas vivências e experiências no espaço em seu entorno, tanto físico quanto humano. Ela estará desenvolvendo seu equilíbrio tão necessário mais tarde no ensino fundamental para que permaneça sentada numa carteira atenta ao professor, pois o seu corpo, de tanto ser explorado através do brincar, amadureceu e já pode ser controlado e aquietado.


Gostaria de ressaltar que educação infantil não é ensino fundamental. Educar significa deixar-se mostrar e aprender a viver num mundo de cultura. Ensinar significa levar à criança a compreender os conceitos vigentes nesse mundo.


Precisamos sim de mais creches, de um maior investimento dos órgãos públicos nesse setor. Mas precisamos acima de tudo, uma maior compreensão do que é uma criança de zero a seis anos.


Como foi dito aqui antes, não podemos usar a ferramenta enquanto ela está sendo feita. Quanto melhor a qualidade dessa ferramenta, melhor e mais duradouro será seu aproveitamento.


Para ler e escrever, necessita-se do amadurecimento dos dois hemisférios cerebrais, sendo que o hemisfério direito (espacial) amadurece por volta dos seis anos, e o hemisfério esquerdo (temporal) amadurece por volta dos sete anos; e o corpo caloso, parte do cérebro que faz a junção entre os dois hemisférios (colaborando assim para a abstração e aquisição de conceitos) amadurece por volta dos 9 anos.


Ler e escrever requer todo um pré-requisito neurológico. Memória requer amadurecimento do sistema límbico. Raciocínio requer amadurecimento da neocórtex. A mielinização do sistema nervoso central leva 21 anos para se completar. Portanto, para que apressar as crianças? Deixemo-las em sua infância sonhando, brincando, criando, experimentando, vivenciando com todo seu corpo tudo que ela puder enquanto criança, porque infância só se tem uma.


Muitas crianças que hoje no ensino médio possuem déficit de atenção, hiperatividade, falta de concentração, incoordenação motora, apatia, depressão e muitos outros rótulos, foram crianças que na maioria tiveram sua infância do brincar substituída pela infância do aprender a ler e escrever, do preparar para o vestibular…


Pillar Tetilla Manzano Borba



Bom meninas, fui consolada com esse texto e continuo com o mesmo pensamento: para que pular fases? Sofia tem a vida toda para ler, escrever e estudar. O tempo que tenho com ela dedicarei para construir memórias de amor, lembranças de carinho e aprendizados que só brincadeiras entre pais e filhos e capaz de dar. Deixarei o intelecto para depois.


É claro que isso não é uma regra ou uma verdade. Mas é isso que se encaixa ao meu modo de viver. Talvez encaixe na sua também, se estiver na dúvida esse texto lhe ajuda. Caso não pense assim, respeito e se puder deixe seu comentário, pois é nas divergências que crescemos.


Com carinho Mila.

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