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O meu parto

  • Mila Miranda
  • 15 de fev. de 2017
  • 4 min de leitura

“Parto normal é para as vacas.”

Escutei essa frase de uma médica, em uma roda de amigas, quando estava grávida de 05 meses, e me marcou muito.


Quando engravidei, nada sabia sobre o mundo materno, quanto mais sobre partos. Mesmo com toda uma desestimulação social, gerada pela cultura de que o parto normal é a pior dor do mundo, tinha uma vontade íntima e imensa de ter parto normal.


Contudo, deixei essa parte para a médica que me acompanhava, afinal de contas, tinha muita coisa para aprender em 09 meses e muita coisa para providenciar para a chegada da minha princesa!


Independente de que forma minha filha viria ao mundo (cesariana ou normal, pois naquele momento só conhecia essas opções), sonhava com um momento mágico, sublime, eu e meu marido extremamente emocionados com nossa filha nos braços, sendo acolhida por muito amor e carinho desde os seus primeiros minutos de vida.

Mas a realidade foi um pouco diferente.

No dia 29.11.2012, seguindo a minha rotina diária, saí de casa com planos de ir trabalhar, todavia, antes passei na clínica para fazer o ultrassom de rotina. Como eu estava no final da gestação, os exames eram semanais (36 semanas).


Para minha surpresa, para minha grande surpresa, saí da sala de ultrassom direto para a maternidade. Eu estava sem líquido amniótico e não poderia esperar mais para realizar o parto.


A minha reação instantânea foi chorar, fiquei muito nervosa!


Não sabia a gravidade da situação, não sabia como minha filha estava, na verdade, a minha médica sequer segurou a minha mão, ou tentou me tranquilizar, apenas disse que eu tinha uma hora para pegar as malas e estar na maternidade. Neste momento começou o “parto de vaca”.... e não seria o “normal”!

Corri para a maternidade! Meu marido já estava me esperando, mais nervoso que eu... rsrsrsrs.

Fui para a sala de preparação da cirurgia, a cada passo o nervosismo só aumentava. Neste momento, meu marido não poderia me acompanhar, o que me deixou mais nervosa.

Fui para a sala de cirurgia muito ansiosa, não parava de perguntar pelo meu marido. Como eu poderia estar sozinha naquele momento? Quero meu marido para me apoiar, para dividir comigo a ansiedade e depois a felicidade. Acho que de tanto que perturbar, acabaram deixando-o entrar.

Ufa! Não estou mais sozinha!

A médica chegou. Pronto! O procedimento iria começar! Meu coração estava a mil!

Tomei a anestesia e deitei.

A sala de cirurgia fica com o ar condicionado desligado por causa do bebê que sai quentinho da nossa barriga. Necessário mencionar também o pano que colocam no nosso rosto para não vermos os pormenores da cirurgia (o marido vê tudo – basta esticar o pescoço). Comecei a sentir que estavam “mexendo” em mim, mas não sabia o que estava acontecendo, que aflição!


Os médicos ficavam conversando sobre o final de semana, sobre a vida deles... enfim, contando as novidades dos amigos DELES... como se tudo aquilo ali fosse um encontro de bar. Enquanto isso, do outro lado do pano, eu que vivia o momento mais importante da minha vida, comecei a passar mal, a pressão baixou, o calor estava insuportável, me sentia sufocada, comecei a chorar de desespero e quase vomitei de nervoso. A médica anestesista me deu um remédio e em poucos minutos tudo melhorou.

De repente, escutei um chorinho de longe e os médicos falando “nossa como ela é cabeluda”. Pensei: Minha filha nasceu! Cade ela? Traga-a pra mim! Mas, primeiro eles a enrolam numa manta para aquecê-la, daí sim levam para a mãe.

Enfim, chegou a minha filha! Era a coisa mais linda que já tinha visto na vida, toda enrugadinha, tadinha, não devia ter mais espaço para ela na minha barriga... kkkkkk.

Como estava sedada e com os braços amarrados, não pude pegá-la! Somente olhá-la... e muito rápido! Você mal consegue curtir o momento e processar a emoção, pois rapidamente tiraram minha filha de perto de mim (e com ela se vai meu marido). Pronto. Novamente fico sozinha naquela sala fria, sem poder mexer as pernas, sem minha filha, sem meu marido, sem meu sonho de um parto cheio de amor, felicidade e carinho.

Fui levada para a sala de recuperação e aos poucos fui entrando num sono profundo. De repente uma enfermeira me acorda e fala: “está escutando esse choro? É da sua filha! Olha como os pulmãozinhos dela são bons!”

Nesse momento, o que eu mais queria era ser uma vaca para estar perto da minha cria!

Eu dopada, não conseguia nem falar e só pensava, traga-a pra mim! Deixe-a comigo! Por que deixá-la chorando desse jeito? Em momento algum consegui falar uma dessas coisas.

Depois de umas 3 ou 4 horas na sala de recuperação, a enfermeira veio me acordar, tentando fazer minha perna mexer, pois precisava ir para o quarto. As minhas pernas não voltaram totalmente, mas fui levada mesmo assim. Junto comigo, levaram a minha filha, mas cada uma em uma maca. Observem que a Sofia nasceu há mais de 4 horas e eu não a tive em meus braços, quão menos a amamentei.

Chegando no quarto fui transferida para a cama e imediatamente a enfermeira colocou Sofia no meu peito para mamar. Não dá tempo nem de pensar, é tudo muito rápido. Mas, foi neste momento que finalmente peguei a minha filha em meus braços, e que a magia do nascimento, um pouco atrasada, sorriu para mim!


Ainda tenho vontade de ter mais um filho e, hoje, de posse de todas as informações, tenho a certeza que quero ter o parto que é para as vacas, pois parece que os humanos são limitados demais para entender a extensão da emoção de um parto!



Mila Miranda

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