Amamentar não é um ato de amor!
- Mila Miranda
- 5 de ago. de 2016
- 3 min de leitura
Essa semana (01.08 a 07.08) foi comemorado a semana mundial da amamentação, uma campanha que acontece em 127 países em prol do aleitamento materno e eu venho propor uma reflexão à vocês.
Tenho a plena convicção de que a campanha é de extrema importância para o desenvolvimento e proteção da criança, mas me preocupo com as campanhas que trazem o ato de amamentar intrínseca ao fato de amar o filho. Com toda certeza vocês já viram a campanha “amamentar é um ato de amor” ou “AMAmentar” e são essas campanhas que me aflige.
Não estão dizendo que amamentar não envolva amor, não me entendam mal. Envolve muito amor e momentos de muita cumplicidade entre mãe e filho! Mas, por outro lado, acredito que o movimento perde força quando deixa de falar com aquelas mães que não conseguiram amamentar.
Quem já amamentou sabe que não é um momento fácil, você encontra uma gama de dificuldade, indo desde a pega correta ao fato de você ficar presa á aquele bebê. Sim, não é fácil do dia para a noite você não conseguir sequer escovar os dentes ou almoçar com tranquilidade, aquele serzinho depende de você 24 horas e estará grudado em seus seis praticamente de hora em hora!
Definitivamente não é fácil! E para ter sucesso na amamentação a mamãe precisa estar tranquila. Até parece pegadinha né? Como estar serena diante de tanta mudança na nossa vida? E para piorar, como estar em paz se você esta tendo dificuldades para amamentar e vê a todo momento campanhas dizendo que quem ama amamenta. E quem não amamenta, não ama seus filhos?
E a mãe que precisa retornar ao trabalho? E a mãe adotiva?
É por isso que digo que amamentar nada tem a ver com a amor, pois então seria o mesmo que dizer que quem não amamenta não ama seu filho e eu não concordo com isso.
Acredito que a segregação entre as mães enfraquece o movimento, pois cria uma rixa entre aquela que conseguiu e a que não conseguiu amamentar. A mãe que não conseguiu carrega um peso em seus ombros e a culpa no coração, afinal de contas se ela não amamentou, não ama o filho.
Parte da responsabilidade dessa separação reside no fato de que a nossa cultura reveste o ato de amamentar com romantismo, caracterizando o momento como ato de amor, excluindo inúmeras mães que não conseguiram êxito nessa empreitada!
Rodando pela internet encontrei alguns textos que colocam essa questão com clareza, e tem um em específico que gostaria de dividir com vocês.
O texto é da Thais Vinha, filha de Vera Helorisa Pillegi Vinha, uma das grandes batalhadoras do Aleitamento Materno no Brasil e traduz muito bem a relexão que quero transmitir aqui.

Amamentar não é um ato de amor
"A primeira vez que ouvi minha mãe pronunciar tal frase, estranhei.
Eu havia ido buscá-la após uma entrevista para um programa da Rede Mulher e notei que ela estava aborrecida. Perguntei o que havia acontecido e ela disse:
"Eles fizeram de tudo para que eu afirmasse que amamentar é um ato de amor. Mas eu nunca direi isso. Amamentar não é um ato de amor".
"Mãe, como assim?" Por um instante, achei que minha mãe estava virando casaca e negando o trabalho de toda uma vida.
(...)
"Amamentar é optar por dar o melhor alimento ao bebê. Não tem nada a ver com amar. Se fosse assim, poderíamos dizer que os pais amam menos seus filhos? Eles não amamentam. As mães adotivas também não. Ou as mulheres que fizeram plástica. Ou as mães que precisaram desmamar seus bebês para trabalhar...será que todos eles amam menos seus filhos porque não amamentam?"
"Mas é o que a gente sempre escuta...que amamentar é dar amor", argumentei.
"Pois é...mas amamentar é dar alimento. O melhor alimento. O mais completo e o que melhor nutre o bebê. Já amar é outra coisa. As pessoas que confundem as duas coisas, sem querer, estão fazendo um desserviço ao aleitamento, pois as mães ficam mais ansiosas, culpadas e cheias de temores. Todos sabem que uma mãe tranquila amamenta melhor. E como uma mãe pode amamentar tranqüila se ela acha que estará dando menos amor para seu bebê se fracassar? Olha o peso deste sentimento!
Quanto mais desmistificarmos o aleitamento, melhor. As sociedades que amamentam melhor, são aquelas que o fazem naturalmente, como parte de uma rotina. O bebê está com fome, a mãe dá o peito. Simples assim. Quase mecânico. Ninguém pensa muito nisso.
E as mulheres que por algum motivo não conseguem amamentar, precisam parar de sofrer. De sentir culpa. Existem muitas outras formas delas darem o suporte psicológico que o bebê precisa. É óbvio que o aleitamento é a melhor escolha, mas a partir do momento que esta escolha não pode ser feita, a mãe deve parar de sofrer."
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