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Aqui só eu toco!

  • Dulce Figueiredo
  • 30 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Sempre que o assunto é abuso sexual infantil eu fico de cabelo em pé e com o coração em frangalhos.

De todos os relatos, notícias e artigos que já li, aquele que abusa, em regra, é uma pessoa de dentro do convívio familiar, alguém de confiança da criança e que teoricamente jamais faria mal a ela. O que, com toda certeza, nos deixa ainda mais insegura e vulnerável.


Infelizmente, não conseguiremos estar com os nossos filhotes sempre embaixo das nossas asas cuidando e protegendo, por isso é essencial que façamos um trabalho de prevenção com os nossos filhos. Mas a minha grande dúvida era, como fazer isso com uma criança de 3 ou 4 anos, que nada ainda sabe sobre assunto? O que falar? Como falar? O que não falar?


Diante de tantos questionamentos, a Dra. Dulce Figueiredo, psicóloga e parceira do blog, escreveu esse rico e esclarecedor artigo, nos dando uma luz em como preparar os nossos pequenos, sem ultrapassar o limite da inocência, para esse mundo ás vezes tão cruel.



AQUI, SÓ EU TOCO

Como falar sobre abuso sexual com as crianças?


Costumo responder que essa conversa só precisará acontecer, se a família não construir valores cotidianos sobre a importância, o cuidado e o respeito pelo corpo.


Como agir preventivamente?


Construir, no dia-a-dia, desde muito cedo, uma relação saudável com o corpo, nomeando suas partes, inclusive as íntimas, falando sobre suas funções, cuidados e higiene de forma aberta e clara.


A cada faixa etária ampliamos as informações sobre as funções e consequências da falta de cuidados e carinho com o corpo. É muito importante validar o desejo da criança de não receber carinho de pessoas estranhas, amigos da família ou parentes. Assim, ela saberá que pode dizer não quando se sentir constrangida, envergonhada ou com dor durante um carinho. As crianças não sabem diferenciar carinhos saudáveis de carinhos abusivos se não puderem exercer e exercitar esse direito de escolha.


Nós, brasileiros, somos muito calorosos nos contatos interpessoais e, muitas vezes, ensinamos e até mesmo obrigamos as crianças a aceitarem carinho de outros adultos sem consultá-las. Assim, as crianças ficam confusas quando os pais as orientam a dizer não para carinhos abusivos. É muito difícil para uma criança perceber a intenção por trás do carinho de um adulto. Seja direto e objetivo ensinando sua criança a não permitir que outros vejam ou toquem suas partes íntimas e que, por sua vez, ela não toque nas partes do corpo do outro. A regra “aqui, só eu toco” ajuda a criança a estabelecer um limite claro para si e para o outro.


Ensine sua criança a perguntar a um adulto de confiança, sempre que tiver dúvidas, sobre o comportamento de determinada pessoa. A família deve construir com a criança um círculo de confiança, entre ela e os adultos com os quais possa contar, quando precisar perguntar ou dizer algo. Nesse círculo deve haver outras pessoas de confiança além dos pais, pois muitas vezes o agressor ameaça tirar a vida dos pais da criança e será a essas pessoas que ela poderá pedir ajuda.


O segredo é a tática usada pelos agressores, dessa forma, diferencie segredos bons de segredos maus. O segredo que causa tristeza, ansiedade, medo não é bom e deve ser contado para alguém do círculo de confiança. Um segredo bom causa alegria, expectativa, como uma festa surpresa. Os agressores são geralmente pessoas próximas da família que usam estratégias de aliciamento para ganhar a confiança da criança; dão presentes (balas e objetos), pedem segredo. Então a regra em casa deve ser contar sempre para alguém do círculo, quando uma pessoa lhe pedir para guardar segredos, quando lhe der presentes, balas, lembrancinhas ou tentar ficar a sós com ela.


Uma em cada cinco crianças é vítima de violência ou abuso sexual, não importando raça, classe social, poder aquisitivo ou gênero. A regra “aqui, só eu toco” pode ser introduzida, a partir do momento em que ela esteja apta a fazer sua higiene pessoal, sem assistência direta dos pais. Isso, porque pais e filhos convivem menos, a cada dia, em função do trabalho, portanto, deve-se criar um momento diário para troca de informações sobre o dia de cada um. A criança deve ser incentivada a dizer com quem esteve e o que fizeram juntos, uma estratégia consciente para o reforço de vínculos, no círculo de confiança.




Dulce Figueiredo Psicologia Clínica dulcefig@gmail.com Assessoria e Treinamento Rua Traçaia nº800 Verdão Fone:3027-5127 Cuiabá-MT

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