Depressão pós parto por Luciana Emily
- Luciana Emily
- 30 de mai. de 2016
- 4 min de leitura
Minha relação com a Depressão Pós-Parto

Planejei cada momento da minha gestação. Quando soube que era a hora, eu e meu marido fizemos todos os exames preparatórios, emagreci, me adaptei à nova rotina e antes de ter meu positivo, já me sentia mãe. Por mais que tenha me preparado fisicamente, o que eu realmente não estava preparada era para as mudanças psicológicas que estavam prestes a acontecer.
Me vi numa montanha russa de sentimentos e tudo era muito intenso, a ponto de uma simples palavra (sempre) mal interpretada por mim já ser motivo para chorar um dia inteiro ou brigar com todos à minha volta. Eu sempre fui muito intensa em tudo: quando queria alguma coisa ou acreditava em algo, sempre tinha que ter razão e se fosse contrariada eram choro e birra na certa.
João Pedro nasceu com 37 semanas e 2 dois dias, de cesariana. Tinha muito medo do parto normal, sempre acreditei que o normal era fazer cesariana. O nascimento dele já foi marcado com provas concretas de que meu psicológico estava abalado: comecei a sentir contrações e a entrar em trabalho de parto em silêncio, pois tive medo dele nascer e tudo na minha vida mudar, além de ter tido crises de ansiedade no momento do parto.
Três dias após o nascimento dele, já em casa, entrei em pânico e novamente tive crises de ansiedade. Só queria a minha mãe e o desespero que senti era tão intenso que achava que nunca ia acabar. Meu filho estava ali, depois de tanto desejar e ansiar pela sua chegada, mas a única coisa que eu queria era que ele nunca tivesse existido. Não conseguia olhar para aquela criança de forma alguma.
Eu sentia um nó tão grande na garganta e toda vez que ouvia aquele choro, as lágrimas rolavam sem ao menos eu perceber. Diante de tudo o que estavam vendo, minha família decidiu que era hora de procurar um especialista. Em uma primeira avaliação, fui diagnosticada com Ansiedade Patológica e comecei a tomar antidepressivos e remédio para dormir (não conseguia dormir desde o nascimento dele). Como já havia feito tratamento para depressão e não tinha obtido muito sucesso, não acreditei na medicação.
Os dias foram passando, o choro aumentava cada vez mais e o desespero não passava nunca. E para piorar a situação, comecei a ter fobia de lugares com aglomerados de pessoas, como supermercado ou shopping. Não conseguia ficar num lugar onde tivesse muita gente, pois começava a ter crises de ansiedade, o ar me faltava e sempre me via sendo perseguida. O sétimo dia de vida do João Pedro caiu num sábado e a família e amigos reuniram todos na casa da minha mãe para visitar o pequeno. Simplesmente não conseguia sair do quarto, sentia falta de ar, um desespero, me via cada vez mais sendo esmagada pelo medo.
Um mês após o parto não via muito progresso. O medo e o choro ainda eram intensos e achava que a única solução para isso tudo acabar era não mais estar aqui. Fora que meu filho estava ali, crescendo e eu me sentia tão culpada por não amar ele como toda mãe ama um filho. Após retornar ao psiquiatra, fui então diagnosticada com a Depressão Pós Parto e a medicação novamente alterada. Foi então indicada à terapia, para auxiliar no meu tratamento. Confesso que não queria fazer terapia, pois como já havia feito antes, tinha certa implicância com psicólogo. Mesmo assim decidi começar, pois precisava me sentir bem, afinal eu era mãe e tinha um bebê que dependia de mim. Para tudo!
Em pouco tempo na terapia pude perceber que na verdade eu não queria ser mãe. Nunca estive pronta para ser mãe. Eu queria estar grávida e existe uma diferença imensa entre ser mãe e estar grávida. Infelizmente, só pude perceber isso depois do nascimento do meu filho. Mas felizmente eu estava conseguindo entender essa diferença e aos poucos o amor pelo meu bebê começou a tomar o lugar da angústia e do medo.
Mas ainda faltava um caminho longo a seguir para estar totalmente livre de todo esse sentimento ruim. Tive várias crises de ansiedade, alternava momentos que não conseguia me desgrudar do João Pedro para nada com uma vontade que ele não existisse. Quando achava que estava livre disso, tive um surto muito grande em que tentei o suicídio. Infelizmente, por uma coisa tão pequena e sem importância, explodi de uma forma tão exagerada que só conseguia pensar na péssima mãe que eu estava sendo e no trabalho desgastante que eu estava dando ao meu marido e minha família e na minha mente a única solução era morrer.
Após esse episódio, em uma conversa com minha psicóloga (nunca vi as sessões como consulta, e sim como uma conversa que podia me abrir sem ser julgada) decidi que iria mudar e tentar lutar contra esse sentimento ruim que ainda estava sentindo pelo meu filho. Ele estava aqui, crescendo saudável e numa velocidade absurda e eu estava perdendo esses momentos, me escondendo dentro de casa. Isso não ia mudar, ele não desapareceria assim que abrisse os olhos, não poderia guardá-lo quando cansasse de brincar. Então, a cada crise e a cada surto, só seria pior: ele estaria sentindo tudo isso e o que ele mais precisava era da tranquilidade e segurança que apenas eu poderia transmitir a ele.
Cada vez mais o amor por ele aumentava e me sentia mãe, enfim.

Não posso dizer que estou totalmente curada, ainda luto contra meus medos e medos de falhar. Mas afinal, qual mãe não trava essa batalha todos os dias contra si mesma? Mas me sinto muito melhor a cada dia que passa e com isso me sinto forte e blindada contra esse sentimento depressivo. Mas, mesmo achando que anda tudo bem continuo o tratamento com remédios, pois entendo que depressão é doença e que precisa sim ser medicada. Mas posso dizer que hoje tenho outra visão sobre a maternidade e que ela mudou sim a minha vida: para muito melhor. E é esse “melhor” que me faz todos os dias querer estar bem e proporcionar ao meu filho a segurança, proteção e tranquilidade da qual ele precisa.
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